terça-feira, 3 de junho de 2008

Entrevista à Dra. Ana Maria Garção


Dr.ª Ana Maria Garção, de 48 anos, especializada em hemoterapia, exerce esta mesma profissão no hospital de Santa Maria (Lisboa). Esta entrevista decorreu na sua casa, em Mafra, onde nos falou sobre a sua vida de médica.

1 - Qual era o sonho profissional que tinha em criança?


O meu grande sonho sempre foi ser médica, apesar de quando era mais nova não ter muita noção do que era esta profissão. No fundo o que está inerente a esta é ajudar os outros. Também estive indecisa entre escolher Português ou Medicina mas acabei por optar por medicina, pois este curso também tinha Português obrigatório.

2 - Como foi o seu percurso escolar?


Sempre fui boa aluna, sempre adorei a escola e nunca tive problemas em frequentá-la. Há muitos jovens que fazem um sacrifício para irem às aulas, pois preferem noitadas. Eu nunca fui muito de sair, a minha prioridade sempre foi a escola. Naquela altura a média para entrar em medicina não era muito alta, por isso, consegui entrar com 15,5 valores, o que hoje não acontece, pois as médias são muito elevadas.

3 - Teve algum incentivo da parte de familiares e amigos para a sua escolha profissional?


Não. O meu pai gostava que fosse médica, no entanto nunca me pressionou, sempre tive liberdade de escolha. Nunca tive influência de ninguém. Sempre soube o que queria. Para além disso, não tenho ninguém da família que exerça esta profissão.

4 - Como foi para si tirar o curso de medicina? Quantos anos durou?


Este curso durou seis anos. Tirei-o no Campo Santana, na Universidade Nova de Lisboa. Os três primeiros anos são muito teóricos, sendo os três últimos mais práticos. Foi um curso muito trabalhoso, exigiu muito de mim e impediu-me de fazer algumas coisas que gostava naquela idade, pois tinha que estudar. Após estes seis anos, fizemos um estágio, chamado Internato Geral, onde já recebíamos ordenado e exercíamos algumas funções de um médico, no entanto, não éramos considerados como tal.

5 - Durante a sua formação apreciou mais a prática ou a teoria? Porquê?


Apreciei muito mais a prática. A partir do quarto ano do curso de medicina, a prática está mais presente e é quando fazemos as histórias clínicas, ou seja, é quando oscultamos, apalpamos barrigas e falamos com os doentes, temos contacto com estes e a partir daí conseguimos detectar o seu estado de saúde.

6 - O que fez com que seguisse esta profissão?


Desde pequena que sempre soube o que quis. E o que eu queria era ser médica. E foi devido a este sonho que segui a minha profissão. Especializei-me assim em hemoterapia, ou seja, faço transplantes de medula óssea e trabalho nas colheitas de sangue.


7 -Porquê a especialização em hemoterapia?


Quando fui para medicina, havia várias especialidades de que gostava, nomeadamente cardiologia e hemoterapia. Entretanto no curso há um teste que fazemos para vermos as nossas tendências e que nos ajudam a escolher a área que melhor se adequam. Também tinha um colega que já estava a trabalhar nesta área e interessei-me bastante. Por isso acabei por optar por hemoterapia. Apesar de ser uma área que ainda não é muito falada na sociedade, é muito importante.

8 - Onde é o seu local de trabalho? Dentro do seu local de trabalho, qual é a secção de que mais gosta?


Eu exerço a minha profissão no Hospital de Santa Maria. Gosto muito de trabalhar na área de transplantação de medula óssea, mais especificamente na colheita de células progenitoras hematopoéticas. Colhemos as células mães e colocamo-las no receptor (doente). Também retiramos plasmas, colhemos plaquetas, glóbulos brancos... É de facto uma área de que gosto bastante.

9 - Descreva-nos um dos seus dias de trabalho.


É complicado, porque tenho sempre um ou dois dias de urgência por semana. Além disso tenho turnos rotativos e por vezes faço noites. Há dias em que tenho colheitas de sangue, outros em que tenho consultas e urgências. E nestes últimos, o trabalho é muito acelerado. É onde tratamos de todos os pedidos de transplantação, seja para serviços ou blocos operatórios. Estes pedidos são todos avaliados por nós. Por isso tem que haver uma grande organização da nossa parte.


10 - Já alguma vez pensou trocar a sua profissão por outra?


Não, apesar de haver alguns dias menos bons e de estarmos chateados. Penso por vezes que poderia ter uma vida mais calma e pacífica, mas hoje em dia quase todas as profissões são muito trabalhosas.

11 - Alguma vez teve uma má experiência enquanto médica?


Nunca tive uma experiência traumatizante. Mas por vezes as coisas não correm como gostaríamos que corressem. Por exemplo, às vezes pode haver um doente que tenha poucas plaquetas e isso é muito mau, temos que lhe transplantar plaquetas. Por vezes, nós médicos, temos dias menos bons como toda a gente.

12 - Prefere trabalhar com crianças ou adultos? Porquê?


Eu prefiro trabalhar com adultos. O sofrimento das crianças é maior, por exemplo, as crianças que sofrem um hematoma podem morrer mais facilmente pois é difícil estagnar o sangue, o que já não acontece com adultos.

13 - O que se passa com a saúde em Portugal?


Estamos longe de atingir um bom grau no que diz respeito à saúde em Portugal. No entanto, eu tenho uma opinião muito pessoal. Eu acho que o Sistema Nacional de Saúde deve ser gratuito para pessoas que têm poucas possibilidades. Apesar de todas as agitações que têm havido no que diz respeito à nossa saúde, não estamos assim tão mal como dizem, pois qualquer pessoa que precise urgentemente de tratamento hospitalar é atendida sem ter identificação, o que não acontece em todos os países. Uma grande parte da população está afastada dos centros hospitalares. No entanto, não pode haver um hospital em cada esquina. Em suma, a nossa saúde não está um caos. E quando há situações urgentes, mesmo que existam grandes listas de espera, são atendidos ou operados.



Micaela Lopes nº 15
Rafaela Silva nº 20
Rita Fortes nº 22

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