sexta-feira, 23 de maio de 2008

Injustiça em vez de Liberdade

Era uma vez uma mulher chamada Cristina. Ela era loira, tinha olhos escuros e cansados e, principalmente, era muito magra. Tinha agora cerca de 43 anos.

Quando tinha 24 anos, teve uma filha cujo o pai era um colega seu de trabalho. A mulher trabalhava numa discoteca em Lisboa, servindo bebidas aos clientes já embriagados e foi aí que o conheceu. Quando lhe disse que estava grávida, o homem despediu-se e nunca mais apareceu. A jovem pensava mesmo que ele tinha saído da cidade.

Os pais de Cristina tinham morrido quando esta tinha 18 anos, num passeio de canoa, fora do país. Uma baleia mordeu-os e nenhum deles tinha conseguido sobreviver. Portanto, a jovem vivia na Alta de Lisboa, um bairro à entrada da grande capital, com a sua avó. Quando a criança nasceu, foi criada por ambas. Entrou na escola aprendendo a ler e a escrever e tornou-se uma jovem responsável e trabalhadora.

Apesar destes benefícios, eram uma família com bastantes dificuldades financeiras até que chegou o momento de Cristina tomar um atitude para conseguir sustentar a avó e a filha. Estava farta de trabalhar num restaurante todas as noites. Quase não via a família porque os horários não eram compatíveis.

Certo dia, a mulher estava a tentar adormecer quando já eram umas 5:00h da manhã e teve uma ideia, não muito feliz, mas com a qual poderia ganhar muito dinheiro: roubar não seria solução, então começou a fazer tráfico de droga.

Fazia viagens constantemente à Holanda e a outros países para ir buscar droga e conseguia transportá-la para Portugal. Quando chegava vendia-a a um bando de mafiosos, numa praia deserta, no litoral do nosso país. Era assim que conseguia ganhar milhares de euros. A avó e a filha perguntavam-lhe onde é que ela conseguia arranjar tanto dinheiro, mas Cristina dizia que tinha um negócio em vários países da Europa.

Mas esse negócio não correu muito bem, pois numa manhã, num dia bastante chuvoso, enquanto a bela mulher passava a droga aos mafiosos que depois a vendiam, a polícia foi fazer uma ronda pela praia, devido ao facto de um casal de idosos suspeitar que se passava qualquer coisa na praia deserta...

Os homens fugiram, mas Cristina estava carregada e nao conseguia correr. Foi capturada pela polícia e, como é óbvio, presa.

A partir daí, a vida daquela mulher transformou-se num inferno. Estava numa cela com mulheres de muito mau aspecto que haviam morto e roubado pessoas. Só Cristina fizera tudo por amor à família, para que não morressem todas à fome.

Cristina ansiava liberdade, liberdade de passear e brincar com a filha e com a avó, de dançar, de cantar... LIBERDADE! Mas não conseguiu! Depois do julgamento ficou com uma pena de 15 anos. Só quando tivesse 58 anos é que poderia fazer todas essas coisas...

Há injustiça no Mundo, mas não há LIBERDADE!


Rita Neves Fortes

nº22

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