terça-feira, 27 de maio de 2008

Pesadelo

Era já muito tarde. Não conseguia, de forma nenhuma, adormecer. Arranjar uma solução para aquele problema, parecia-me impossível. Teria solução?
“Pensa Sara… pensa!” dizia eu para mim mesma. Nunca pensei ver-me numa situação destas. Porquê a mim?
Continuava a raciocinar pela resolução deste enigma, na escuridão do meu quarto onde apenas se ouvia o ressoar do vento lá fora. Fixei-me num boneco exposto em cima da cómoda à frente da cama. Como se olhasse para o infinito. Estava concentrada nos meus pensamentos quando tocou o telefone. Seria ele? Deveria atender? Parei um momento, totalmente perplexa. Tive medo.
O medo sempre se apoderou de mim ao longo de toda a minha vida, órfã de pai e de mãe sempre foi um pesadelo. Viver na penúria das minhas mágoas passadas, sem ter ninguém. Sozinha. Agora ainda é pior…
O telefone tocou novamente. Atendi.
- Olá Sara! Pronta para enfrentar o destino? – Disse a voz do outro lado da linha.
- Quem és tu? O que é que queres de mim? Deixa-me em paz!!!
- Sou o teu pior pesadelo querida…
Desliguei o telefone. Fiquei alguns segundos paralisada, com as mãos a pressionar o telefone como se quisesse destruí-lo. Continuei a olhar fixamente para o pequeno boneco, em cima da cómoda, cujo olhar amigo começava a parecer triste como um indício do destino trágico que me esperava.
De repente, o som do vento a bater na janela tornou-se mais intenso. Dirigi-me à janela para verificar se estava bem fechada. E estava, o que significava que o assobio assustador não era do vento. Alguém bate na porta e o meu coração parece sair pela boca. Deveria abrir? De repente começam a bater incessantemente na porta como se alguém estivesse pronto a arrombá-la do lado de fora.
Sem aviso, a porta abre-se e ninguém estava do outro lado. No chão encontrava-se um revólver e um bilhete.
Quem me está a seguir? E porquê a mim? Apanhei a arma e o bilhete. O bilhete dizia: “Tens duas opções – vida ou morte. No revólver está a bala que te levará à morte imediata. Do resto da tua vida, trato eu”.
Tive medo. Não sabia para onde haveria de ir. Só me apetecia fugir. Quem teria deixado aquele bilhete? Seria ele? Corri pelas escadas acima, na ânsia de alcançar o telefone para pedir socorro. Transpirava muito e a escada parecia não ter fim. Cada segundo parecia-me um ano. Quando finalmente cheguei ao piso de cima e agarrei no telefone, senti algo a tocar-me no ombro. Fiquei aterrorizada. Alguém me sufocou e num ápice tudo ficou escuro.
Não me lembro de mais nada. Acordei. Acordei num sítio pavoroso. Eu, numa cadeira de madeira velha, completamente amarrada, olho ao meu redor e deparo-me com corpos nus envoltos num plástico transparente e repletos de sangue, presos por cordas pregadas no tecto. Parece que nesse instante o meu coração tinha parado de bater.
O silêncio dominava o recinto até que ouvi a voz dele. Era ele. O homem que matara os meus pais. Foi horrível aquele momento, mal conseguia olhar para a sua cara. Até que me agarrou e disse “É a tua vez Sara”. Só me apetecia gritar. Soltar aquelas cordas que me prendiam e fugir dali, mas parecia-me impossível.
Parei com estes pensamentos, tentei acalmar-me e ser racional. Tinha de haver uma solução, mesmo que parecesse o fim da linha. Eu sabia disso, até que me lembrei de uma maneira de me poder ver livre. Foi naquele momento que comecei a mexer os braços freneticamente. Ele tirou-me a fita que tinha colada na boca e perguntou-me com um tom agressivo “O que é que queres?”.
Preciso mesmo de ir à casa de banho – disse eu. Se pensas que caio nessa cantiga, enganaste! – Desisti. Ele nunca cairia na minha conversa. Limitei-me apenas a espernear. No segundo em que olhei para o lado oposto onde ele se encontrava, senti uma facada do lado esquerdo da barriga. Não fiquei inconsciente, mas dei-o a entender, para que não me voltasse a esfaquear.
Nos instantes seguintes apenas senti o cheiro intenso a gasolina. Senti o meu corpo pesado e a cabeça a andar à roda. Estava mole mas consegui abrir os olhos e vi os tais corpos a arderem no tecto. Temi pela minha vida. Um a um, os corpos carbonizados começaram a cair no chão. Levantei-me lentamente com dores agudas no abdómen. Dirigi-me, com paços curtos, para a porta na esperança de estar aberta. Esperança vã. Estava bem trancada. Quase chorava com o fumo que me cegava. E foi quando reparei numa janela ao fundo da sala. Uma saída!
Já do lado de fora da janela, apercebi-me de que estava na estrada. Já sem forças, caí. Estava estendida no meio da estrada, onde aparentemente não passava ninguém. De repente vi uns faróis de um carro. Ouvi umas vozes. Alguém me colocou dentro desse mesmo carro. E tudo mudou.
Agora vivo longe. Muito longe. Longe dele e de todo o perigo por que passei. Sou feliz, mas sei que ele pode a qualquer momento voltar. Trim Trim. O telefone tocou… e eu atendi.

Inês Martins
Bruno Laert
Rafaela Silva
Ruben Dias

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